26 outubro 2017

Foto por Bruno Bondarenv
  Eu descobri que vou morrer, afogada em ilusões, estou morrendo hora a hora, por minha causa, por mim. Morrerei apenas para que se cale meu pensamento triste. 
  Eu sinto cheiro de flores, talvez rosa ou jasmim. Há rosas sim, rosas negras. Vejo a face branca, embalsamada, cristalizando-se num sonho inexistente. Estou pronta. O céu desponta, a noite é quente, há cheiro já da manhã: cheira flores, rosas, talvez jasmins. E minha alma dói, é forte, caí de mim, será que dói a morte? Ou será ela lenta e serena? 
  Eu vejo longe seu olhar quieto, será alguém capaz de ouvir-me? Posso tocar o silêncio, o vazio, o vento; estou morrendo aos pouquinhos. Será que há quem se importe? Eu morro a cada novo segundo, morro mais. É morte lenta, morte calma, que tira pedaços meus, banhando-me em sangue. 
  Morro aos poucos em face serena, pálida e sombria. Morro só, sem amigos, sem dor, sem lágrimas. A flor da morte me chama, já me aquece a vontade de partir, estou morrendo hora a hora, em alma que se mancha aos poucos. A lâmina é fria, o sangue é quente, não há dor ou lágrimas. Morro silenciosamente, morro só.

2004. 

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