Pedro acordou em meio à madrugada, estava um pouco frio mas alguém já o
cobrira. Eram apenas as cortinas que faziam barulho, pois a janela tinha
se fechado sozinha como num passe de mágica. Pousado sobre o criado
mudo estava seu livro favorito, Peter Pan. Mais uma vez Pedro dormira
revendo as ilustrações.
Pedro era um menino comum, desses de contos infantis. Tinha pai, mãe, irmãos e uma namoradinha de infância. De cara feia era a coisa mais linda do mundo. Rancoroso? Ah! Um amor. Sorrindo? Nossa! Um anjo, desses que toda a avó guarda no porta-retrato.
Mas Pedro tinha decidido, seria criança para sempre e mesmo tendo uma mãe persistente, como essas de histórias contadas, não houve jeito. Não houve psicólogo, psiquiatra ou psicoterapeta que fizesse Pedro fechar a janela para dormir. Não estava preparado, talvez nunca estivesse.
As pernas esticaram, o rosto ganhou barba, a voz engrossou e a Terra do Nunca continuou nos sonhos do menino. Pedro tinha certeza que dia em que o jovem Pan viria buscá-lo para seguirem juntos em uma aventura.
Até houve vezes, poucas vezes, que Pedro tentou viver no mundo real e se deixar ser como gente grande. Porém seu mundo era tão melhor, tão mais fácil... era tão mais legal ser apenas um garotinho.
Talvez tenha sido por isso nunca houve jeito, e os pais de Pedro tenham ido sem vê-lo crescer. Foi essa a primeira vez que Pedro sentiu dor de adulto. Até então pensava que a morte fosse como nos livros, onde não tem solução, mas tem jeito. Pedro descobriu que na vida real a dor doia e finalmente olhou para os lados e percebeu-se só. Era nada além do garoto esquisito, cujas pessoas diziam que não tivera infância ou preferiam apenas não dizer nada.
Mas no mundo dos contos de fadas a dor vai logo embora, por isso Pedro hesitou quando lhe ofereceram mudanças. Decidiu retomar sua vida: saia aos domingos para ir ao parque, comia doces escondidos antes do jantar, deixava os brinquedos espalhados pelo chão da casa, via desenho animado até tarde.
Assim, Pedro nunca deixou de sonhar, nunca desistiu. "Quando você vem me buscar?", questionava às estrelas esperando que Peter pudesse ouví-lo "Quando?".
Parecia mesmo que Peter não viria nunca, e por isso naquela noite Pedro adormeceu, deixando dessa vez a janela entre-aberta para conter um pouco o vento que lhe causava piagarro. Talvez por isso ele tenha se assustado ao ouvir passos de criança dentro de seu quarto. Talvez por isso quase não tenha visto a sombra sozinha que escondia-se de seu dono dentro das gavetas.
Pedro apenas percebeu o que estava acontecendo quando olhou as próprias mãos, salpicadas de algo tão brilhante e reluzente que iluminava o quarto todo. Era verdade, pensava, sempre fora verdade.
Pedro pulou da cama e assim mesmo, de pijamas, dirigiu-se à janela. Pulou tão alto que logo alçou voo, voando até que o ar lhe cortasse as bochechas. Talvez tivesse seguido para a Terra do Nunca, certamente não voltaria mais.
Pedro era um menino comum, desses de contos infantis. Tinha pai, mãe, irmãos e uma namoradinha de infância. De cara feia era a coisa mais linda do mundo. Rancoroso? Ah! Um amor. Sorrindo? Nossa! Um anjo, desses que toda a avó guarda no porta-retrato.
Mas Pedro tinha decidido, seria criança para sempre e mesmo tendo uma mãe persistente, como essas de histórias contadas, não houve jeito. Não houve psicólogo, psiquiatra ou psicoterapeta que fizesse Pedro fechar a janela para dormir. Não estava preparado, talvez nunca estivesse.
As pernas esticaram, o rosto ganhou barba, a voz engrossou e a Terra do Nunca continuou nos sonhos do menino. Pedro tinha certeza que dia em que o jovem Pan viria buscá-lo para seguirem juntos em uma aventura.
Até houve vezes, poucas vezes, que Pedro tentou viver no mundo real e se deixar ser como gente grande. Porém seu mundo era tão melhor, tão mais fácil... era tão mais legal ser apenas um garotinho.
Talvez tenha sido por isso nunca houve jeito, e os pais de Pedro tenham ido sem vê-lo crescer. Foi essa a primeira vez que Pedro sentiu dor de adulto. Até então pensava que a morte fosse como nos livros, onde não tem solução, mas tem jeito. Pedro descobriu que na vida real a dor doia e finalmente olhou para os lados e percebeu-se só. Era nada além do garoto esquisito, cujas pessoas diziam que não tivera infância ou preferiam apenas não dizer nada.
Mas no mundo dos contos de fadas a dor vai logo embora, por isso Pedro hesitou quando lhe ofereceram mudanças. Decidiu retomar sua vida: saia aos domingos para ir ao parque, comia doces escondidos antes do jantar, deixava os brinquedos espalhados pelo chão da casa, via desenho animado até tarde.
Assim, Pedro nunca deixou de sonhar, nunca desistiu. "Quando você vem me buscar?", questionava às estrelas esperando que Peter pudesse ouví-lo "Quando?".
Parecia mesmo que Peter não viria nunca, e por isso naquela noite Pedro adormeceu, deixando dessa vez a janela entre-aberta para conter um pouco o vento que lhe causava piagarro. Talvez por isso ele tenha se assustado ao ouvir passos de criança dentro de seu quarto. Talvez por isso quase não tenha visto a sombra sozinha que escondia-se de seu dono dentro das gavetas.
Pedro apenas percebeu o que estava acontecendo quando olhou as próprias mãos, salpicadas de algo tão brilhante e reluzente que iluminava o quarto todo. Era verdade, pensava, sempre fora verdade.
Pedro pulou da cama e assim mesmo, de pijamas, dirigiu-se à janela. Pulou tão alto que logo alçou voo, voando até que o ar lhe cortasse as bochechas. Talvez tivesse seguido para a Terra do Nunca, certamente não voltaria mais.