21 fevereiro 2012

Pequenas Maldades

Poucas coisas são mais intrigantes do que saber exatamente o que pensa um desconhecido apenas através de seu olhar. De maneira curiosa isso aconteceu essa noite.
Clara Lúcia dava seu show pessoal, gritava, mostrava a roupa nova, queria todos os olhares e comentários. Para ela os presentes eram insuficientes, pois Clara precisava de cada segundo de atenção.
Achando tudo aquilo curioso, lá estava eu em sua festa de aniversário, mesmo a conhecendo há apenas uma semana. Fomos apresentadas num encontro de negócios e por coincidência uma amiga em comum me levou a seu aniversário.
Cheguei com a festa já começada há bastante tempo e de maneira discreta cumprimentei alguns presentes. Sentei-me na parte externa bebendo qualquer coisa até que começamos, Carlos e eu, a conversar. Falamos desses assuntos que as pessoas falam quando se conhecem, hora ou outra interrompidos por Clara para tirar fotos conosco e fazer algum comentário humorístico.
- Uma figura essa Clara, não? - Comentei. Carlos sorriu, fez uma pausa e completou:
- Certamente, por onde ela passa deixa alegria.
Os assuntos de nossa conversa seguiram-se até que inicou-se a aglomeração para o cantar dos Parabéns. Clara já intimara um a um para aplaudir seu futuro. Foi nesse instante que perdi Carlos de vista e encontrei minha amiga, postando-me ao lado dela. Todos batemos palmas e cantamos à Clara e quando as luzes se acenderam  vi Carlos bem de frente, do lado da sala oposto ao meu. Clara fez seu discurso e nos olhos de Carlos pude perceber a paz dos que resolvem seus males. Clara falava, Carlos tossia uma, duas, três vezes. Lúcia fez uma pausa e olhou diretamente para Carlos. Carlos tossiu mais uma vez e sobre a mesa de doces ainda intocada derrubou uma avalanche de comida e bile vindas diretamente de seu interior. Depois, apenas desfaleceu em câmera lenta, não sem antes cruzar seu olhar ao meu e sorrir à vaidade de Lúcia, sua grande amiga de longa data.

8/2/2012