05 setembro 2012

A Doença do Pai


Naquele dia o pai adoeceu, teve uma crise nervosa louca, tirou todos do sério.
Que doença era aquela? Doença séria, daquelas que não tem porque não querem ser curar.  
Naquele dia o pai matou os filhos no grito sem paciência e a mulher na raiva sem motivos. O pai
não queria curar-se, e quem poderia viver com ele assim? Antes o pai era pai, do nada o pai virava pó.
Seus gritos sem razão ecoavam pelo ar. Brincadeiras fora de hora e instigadas
por estigmas que cresciam gradativamente. Não tinha mais graça, nem mais
nada. Morre devagar o pai, que tenta estar dentro mas está fora.
Ninguém agüenta esta doença fétida, amargurada e exibicionista. Doença que traz aquilo que o pai esconde, mas que o pai é. Morre aos poucos e vai morrendo, arrasta-se, talvez nem perceba. 
A doença consome as capacidades do pai, e por que tem que estar errado o médico e certo o pai?
E por que tem que calar-se o filho para ouvir o pai? E por que deve ser-se esposa junto desse pai?
Que doença! Veja esta fumaça fétida que sai da boca do pai. Veja esses dentes podres que tem o pai. Veja este nervosismo louco que atinge o pai. Veja este homem tosco que é...
Naquele dia o pai adoeceu, num surto de raiva fechou seus olhos, tapou os ouvidos, trancou a mente, adormeceu. Alguém ainda deve sentir saudades do pai, e talvez ainda exista esperança, pois a cada segundo morre um pai.


16/04/2006