06 abril 2011

Temores


 
A noite fez-se imóvel, assim como a figura estática que mal ouviu os ruídos do lado de fora. Adam levantou apenas uma das sobrancelhas e continuou parado, pensando no que poderia estar passando por sua mente. De repente, sem ruídos, uma voz tiniu pela leve claridade da lâmpada no centro da sala. Foi uma questão de baixar os olhos um instante e tentar procurá-la para que fosse embora. Eu devo estar enlouquecendo, pensou Adam. Só pode ser isso.
Já estava aflito e, sem perceber, pegara o livro que estava próximo a antiga mesa onde ficava o telefone de disco. Abriu na metade, começou a ler parágrafos aleatórios, e seus ouvidos começaram a prestar a atenção nos pequenos ruídos provocados pelo silêncio. Ah! Se fosse cinema, certamente haveria um assassino junto à porta, imaginou apreensivo. Sabia que nada havia, mas começou a controlar a respiração, que ficava mais ofegante cada vez ele tentava torná-la mais amena.
A luz era fraca, uma lâmpada apenas para uma sala toda. Suficiente para a leitura ou para achar algum objeto, mas coadjuvante num momento como aquele. Ele Fechou o livro rápido, como se pressentisse algo. Levantou-se sem produzir barulhos, pegou com cuidado um casaco leve. Procurou pela chave, decidiu sair à rua para dar uma volta, espairecer.
Mas, a chave... onde estaria aquela maldita chave? Procurou em vários lugares. Não achava, merda de luz, pensava, luz, merda, merda...  Cadê a chave? Onde eu pus a chave?
Adam sentiu um medo lhe consumir em seus próprios temores. Abriu rapidamente as pequenas gavetas do móvel da sala. Que inferno, cadê a chave? Tremia, tremia, procurava a maldita por toda a sala. Só poderia ser uma conspiração, estariam tentando algo contra ele.
Anoiteceu e a ausência de barulhos deixou-se com a luminosidade. Ventava para que as janelas batessem, lá fora já ameaçava a suposta chuva. Adam não podia sair, estava preso em sua própria casa.
Ainda mexeu outra vez nos bolsos, mas já desistira de achar a saída. Mas antes mesmo que surtasse achou a maldita chave, escondida num lugar comum, bem à mostra. Sorriu aliviado e levou-a até a porta, que não abria... Não abria, não abria!!!!!! A Porta, a chave, a fechadura... como poderia?
Ele entrou em Pânico, ouvia passos, tinha certeza, ouvia. Havia alguém atrás dele, alguém tinha trocado a fechadura da casa. E os parágrafos soltos que lia pela manhã? Onde estariam? Ele  os deixara em algum lugar, mas onde?
Deixou a chave na porta, que não abriu e passou a procurar pelo livro e de repente viu-se perdido dentro de sua casa. Ouvia passos, ouvia, mas não havia ninguém. Respirava ofegante e aos poucos percebeu que poderia estar louco, só poderia estar louco!
Adam acordou, deitado no chão da sala. O livro ao seu lado, o dia claro. Levantou-se rapidamente. A chave não estava na porta. Nem no chão, nem e lugar algum. Esfregou os olhos aflito, e riu sozinho de toda aquela brincadeira.
Por segurança foi verificar as janelas. Trancadas e com grades. Mas... ele nunca tivera grades em casa. Passeou os olhos pela sala, havia um aparelho qualquer sobre a antiga mesa de telefone.
Adam abriu as cortinas e acendeu a luz para enxergar melhor. Horrorizou-se. As paredes pintadas, o teto cheio de pequenas lâmpadas, e no quintal, visto pela nova janela de vidro... onde estariam suas roseiras? Em desespero sentou-se no chão novamente, gritando por sua liberdade. Seus livros não estavam mais guardados no móvel, que sequer existia. Aquela casa, de quem era aquela casa na qual não havia pessoas, mas que tinha engolido seus objetos?
Ouviu passos novamente, mas sequer se preocupou. Deitou-se no sofá, que não era o seu. Sentia, sem se importar, alguns calafrios pelo seu corpo. Ouviu conversas perdidas, mas nada que ele quisesse prestar a atenção.
Adam apenas deitou-se, perdido no tempo e melancólico por não saber onde estava ou se pertencia aquele lugar. Dormiu sob as luzes, e esperava um dia acordar novamente em seu lugar, em seu rítimo, em sua época.