Faz anos que estamos parados olhando um para o outro. Os momentos se sobrepondo, nunca circulamos no mesmo sentido, um corpo de sins e nãos que se alternam. Você desaparece, ressurge, recomessa. Não sei.
Talvez ela seja meu alterego, por isso me irrita. Diz as coisas que eu diria, age como eu penso em agir, tenta ser aquilo que não é. Me irrita porque é o que eu sou, é o que eu finjo não ser. Ela desafia, encara, põe à prova. Eu olho nos olhos, rejeito, ignoro, recuo... mentira.
Não sei o que você me causa, além da dúvida. Inconstante demais para ser intenso sempre, intenso demais para ser somente vazio. Mas sei bem quem é você, pois guardo bem seu toque rude, suas palavras, nossas conversas.
Ela é meu alterego sim. Alguém que desdenho, mas não desprezo. Persegue, cerca, avança, irrita.
Quanto a nós somos? Sempre fomos assim, refugiados. Já teríamos engolido um ao outro se fossemos somente carne. Você me desdobra, me põe à prova. Não sei quantas vezes nos perdemos, quantas nos perderemos. Para sempre é muito tempo, nunca é pretensão demais.
25/01/2009