20 maio 2013

Virada Paulista

- Não fui à Virada e Sobrevevi. Já você, os olhos jazem sob um tiro por um celular.
Ela riu-se, desconfortada quando recitei. Não era piada. 
- Foram somente duas mortes para quatro milhões de pessoas.
- Afinal, celular a gente compra outro, o problema é sua alma, que não vale um vintém.

Fácil dizer quanto o tiro não é na tua cabeça. O celular não é seu, a bunda apertada é da outra.

Quando digo que não gosto de São Paulo é por isso. 
Porque não se pode relaxar. E não falo da virada cultural, que não fui esse ano mas adoro. 
Falo porque engarrafo no trânsito de olhos abertos e coração aflito. 
Falo porque não paro no sinal à noite, porque a cidade não para para eu passar.

E a gente se acostuma ao caos. Sobrevive. 
São Paulo é tão incoerente quanto o ricasso que paga caro para morar ao lado do esgoto Pinheiros. 
Tão incoerente quanto o favelado que joga esgoto no rio podre que corre à sua porta.
Tão incoerente quanto eu que não sei nem por onde começar por isso não faço nada. 

- Não fui à Virada e Sobrevevi!
Que frase patética! 
Já você finge que não é contigo quando alguém vai por um tiro por um celular.