Aquele jardim era o jardim da minha infância. Ficava bem de frente à casa pequena de terreno grande, e se estendia por uma área que todo o corretor de imóveis dizia ser perfeita para uma piscina.
Ali ela plantava onze horas, uma flor miúda que abre somente perto do almoço, no sol quente, e depois se fecha. Faz os mesmo à noite, pontualmente às onze.
Era, sem dúvida, o jardim mais bonito de uma rua cheia deles, no tempo em que as roseiras com facilidade cresciam mais que os muros baixos.
Mas aos poucos, conforme os dias correram, as onze horas se despetalaram, assim como todo o jardim. As mãos outrora jovens que delas cuidavam, estão cada vez mais cansadas, mais esquecidas, e dormem para passar o tempo que demora a passar.
Mãos essas cuja dona esqueceu seu nome, quem foi um dia, quem um dia ela desejou ser.
Das onze horas não restam nem rastros, nem mudas e no jardim que no futuro será piscina, se propaga um mato seco e cada vez mais alto, quase pronto para invadir a casa, igualmente deslocada na rua cheia de prédios.
Triste ver que a dona se desmancha na medida que o mato cresce, triste saber que nunca mais haverá onze horas, rosas, hortênsias, nem nada. Se desmancha o jardim como se desfaz sua memória. Porque na verdade assim é, todos as lembranças se desmancham, sempre é. Porque a memória desmonta, e nos faz ir embora, antes até mesmo de termos ido.