30 março 2011

Desencontros

Nos encontramos por acaso, naquele café que ambos frequentavamos há anos. Mas fora realmente conicidência, eu mesmo não aparecia por lá há um tempo tão árduo quanto minhas viagens. 
Um expersso cruto, pedi enquanto abria o livro e ajustava os óculos sob meu nariz achatado. Ao meu lado, um suco de manga pediu a moça, quase desacreditada ao perceber que por trás daquela armação redonda havia um conhecido de tanto tempo. 
- Ual! - disse - Só aqui mesmo pra eu te encontrar seu fujão! - Eu sorri desconcertado, mas imediatamente nos alojamos numa mesa e perdi as contas de quantos cafés mais tomei. 
- O que houve com você, sumiu. - Disse ela com aquele brilho habitual no olhar. 
- Viajei mais do que gostaria - Foi a resposta mais imediata que pude dar. 
Os grandes olhos dela sugaram minhas patéticas histórias de viagem, enquanto a conversa seguiu por todos os locais por onde passei.
- E qual deles você gosta mais, afinal? - Perguntou ela sem esperar a resposta certa. 
 - A verdade é que gosto e desgosto igualmente de cada um desses lugares. 
Ela não me olhou surpresa. Conhecia-me a tempo suficiente para não pedir explicações. Fez uma rara pausa em seu falar constante. Seus olhos contornaram o café e quando me encontraram novamente ela começou a falar de si. 
A verdade é aquele acaso e a indiferênça que ela pela primeira vez demonstrara por mim pareciam perdidos em nosso assunto. Afirmou, de repente, que estava tudo bem, e apesar dos problemas, era feliz. `As 16 horas, precisamente, ela pôs um ponto final em nosso assunto,  levantou-se, pagou sua parte da conta e saiu; não antes de pedir meu novo número de telefone. 
- Vê se não some de novo! - Seu beijo fez um pequeno e nostálgico estalinho na minha bochecha - Tchau.
Ela sabia que eu não ligaria, que não faria esforço para vê-la, que não voltaria ao café tão cedo para provocar outro acaso. Talvez seja por isso que eu não a tenha visto por lá durante os dois meses seguintes em que meu expresso curto se repetiu sozinho naquele balcão durante as tardes semanais. 
Eu sabia, ela não ligaria. Esperava ainda que eu fosse a seu encontro, por isso precisamente `as 17 horas e 13 minutos ela me telefonou. Sequer eu pude dizer alô. 
- Nina morreu! Achei que você gostaria de saber. - Ela não desligou nem disse mais nada. Apenas confirmou o local do veleório. 
Há tempos que não a via, Nina, e não pude imaginar que nosso próximo encontro seria tão gélido. 
Encontrei-a no velório. Ela estava lá, rodeada de desconhecidos meus. Veio a meu encontro, não disse nada. Não chorava. Eu apenas tomei-a nos braços. 
- A gente sempre soube que ia ser assim. - disse ele inconformada.
- A doença... há quanto tempo. Não foi melhor assim?
- A gente sempre soube que ia ser assim... - Fingi não compreende-la. Apenas mantive-a em meus braços, mexendo com suas mexas de cabelo. Ela procurou afastar-se um pouco de mim.
- Olha pra mim - disse nervosa - você sabia, não sabia?
- Todos nós sempre soubemos. - Os olhos dela desviaram dos meus e daquela vez ela exigiu respostas.
- Você sempre fingiu, um dia seria assim. - Aquela talvez fosse a maior de suas mentiras. Nunca houve ela, ou Nina, ou a mim.  
Ela sentou-se no chão, cuzou as pernas e chorou como um bebê. Dasta vez ela não aceitria minhas justificativas. 
Eu observei-a, enxuguei sua lágrima com as costas da minha mão. Aproximei-me, beijei sua testa e me afastei.
- Você não se importa, não é? - Ela ainda insistiu.
- Ah Nina minha, não precisa mais mentir. Você também sempre soube que seria assim.