18 dezembro 2012

Elefante em Camadas



Ainda não sei exatamente como descrever este filme, que trata a crueldade com tato e sutileza. O choque, a discussão, tudo é colocado de maneira cuidadosa, mesmo que em alguns momentos o filme acabe caindo em certo clichés maniqueístas, como por exemplo a exploração do nazismo.
Contudo, nas maior parte do tempo o filme não procura culpados ou propõe soluções. Elefante aponta sintomas, dá pistas de que há algo de errado/estranho naquele colégio. O filme passeia pelas situações cotidianas,  momentos casuis e tenta mirar em qual poderia ter sido o disparador daquela situação.
Penso que haveria muitas vertentes pelas quais seguir para analisar essa obra mas proponho  um atentamento ao cuidado com o desenho sonoro, aos sons do colégio, às frases pequenas e pontuais que intensificam a densidade do filme, à trilha musical.
Mas antes disso é preciso pensar que Elefante é um filme de camadas. O primeiro sinal delas está nos intertítulos em telas pretas, com os nomes do(s) personagen(s) que a câmera e o som vão acompanhar naquele momento da narrativa.
Assim como faz a câmera, que passeia pela vida dos personagens um de cada vez decompondo o espaço temporal, o som também é construído através de sobreposições. Afinal, o filme trata de um espaço temporal comum, pois quase todos os acontecimentos com os diversos personagens ocorrem no mesmo momento do dia. Sabemos de sua simultaniedade porque vemos e ouvimos as mesmas ações muitas vezes em difererentes pontos de vista. Exageradamente, e para que não esqueçamos disso em nehum momento, o diretor inclusive opta inclusive pela câmera lenta, afim de chamar a atenção do espectador para determinado evento.

“Eli encontra Jonh no corredor e pede para que amigo pose para um foto. Toca o sinal. Ao fundo passa correndo Michelle, a nerd, que está atrasada para sua monitoria na biblioteca.” Essa cena é repetida três vezes de ângulos diferentes em diferentes partes do filme. Cada ângulo parte do ponto de vista de um personagem. A câmera, seja pelo enquadramento ou pelo foco, priveilegia determinados personagens e ações. Da mesma forma o som acompanhrá princialmente a fala dos meninos nas duas primeiras vezes que a cena surge e depois estará mais preocupado com os passos e a respiração de Michelle. 
    Outro exemplo de simultaniedade de ação em cenas distintas, esse mais enfatizado pela sonoridade, é a primeira sequência do filme. Jonh acabou de chegar atrasado ao colégio e foi para a sala do diretor. Nathan saiu do jogo de futebol americano, caminhou em direção ao prédio  do colégio, encontrou, Carrie - sua namorada - no corredor e dirigiu-se com ela até a secretaria. Enquanto Nathan E Carrie pedem aotorização para sair ouvimos um diálogo bem baixinho a respeito de uma foto, e uma viagem ao Hawai. Diálogo sem importância, já que os personagens focalizados estão pedindo autorização para sair do colégio. Quando Jonh sai da sala da direção e passa pela secretaria, pede para deixar as chaves do carro para seu irmão. Ele pergunta à secretária sobre a foto. Ela diz que foi tirada em sua viagem ao Hawai. Desta vez é  o diálogo entre o casal e a outra secretária que está no segundo plano sonoro.
O diretor utiliza-se desta alternativa durante todo o filme: o volume dos diálogos tem nuances claras, acompanhados pelo movimento e escolha da câmera. Subidas e descidas de áudio colocam-nos em contato com as histórias mais banais. Ao mesmo tempo passam por cima do universo íntimo de cada um dos personagens apresentados, daquilo que é ou não importante para cada um deles. As vozes, que nos dias comuns se misturam, são ouvidas uma a um numa tentativ de demembrar o colégio e e achar o que pode ter engatilhado o massacre.
É num desses passeios feitos pela câmera que Alex, autor do massacre, adiantará à sua colega que tem um plano. Ele não o revela, apenas diz naturalmente "Você verá", enquanto serve-se do almoço. A refeição naquele colégio é natural de todos os dias, da mesma forma como é natural que estudantes cheguem atrasados, peçam para sair mais cedo, revelem fotos no laboratório, frequentem a biblioteca, sejam vítimas de bulling durante a aula ou vomitem no banheiro após almoçar duas folhas de alface. Frases potuais como a de Alex, os barulhos típicos do colégio - como o sinal -  o som do engatilhar da arme frente a Nerd na biblioteca. Contrastes audíveis que colocam em xeque o que faz ou não parte desse mundo chamado de normal.
    Alex é um personagem frio, aparentemente inerte ao mundo do colégio, pianista. Sonata Luz da Lua é a música da primeira sequência do colégio, onde todos os personagens que morrem no massacre aparecem. A melancolia da melodia aponta para a vida tão cotidiana da escola como se fluísse rumo a sua decadência e enxergasse os pequenos conflitos e vazios retratados pelos alunos através dos diálogos aos poucos apresentados. A sonata de Beethoven transita pelas camadas de imagens e sobre o vazio existente em cada um desses adolescentes. O trecho dela que foi esclhido para o filme é repetitivo, assim como é a rotina. Ciclo esse que será quebrado apenas por Alex e seu amigo Eric, também responsável pelo massacre. Contudo, enquanto para Eric o massacre é apenas diversão, para Alex soa algo além. Alex aparece visivelmente deslocado, e a rotina do colégio para ele parece insuportável. Seja na cena de bulling em sala de aula ou pelo momento em que está na praça de alimentação pegando seu almoço.
  Após a rápida troca de palavras com a colega no refeitório, Alex fixa os olhos num ponto. O Barulho das vozes na praça de alimentação se intensifica, aumentando em volume. Os olhos de Alex parados juntamente com o som cada vez mais alto dão nos a sensação de perturbação sentida pelo personagem.  Para Alex a única ligação possível com o colégio está na melancolia, no piano, em Bethoween.
    Alex é pianista, o compositor do massacre. Quando está sóziinho em seu quarto toca primeiro Für Elise, música de melodia simples, mas cheia de nuances de altos e baixos e de camadas que se sobrepõe rapidamente. Aos poucos Alex muda a música que toca. Enquanto isso a câmera percorre seu quarto. A música e os objetos pessoais jogados no quarto de Alex dizem muito mais a respeito dele d oque a abordagem feita no colégio.
  Finalmente as mãos de Alex ao piano chegam em Sonata Luz da Lua, música do cotidiano do colégio. Ele não consegue tocá-la. Erra algumas notas, se irrita com o instrumento e consigo mesmo, desistindo com um gesto obsceno para o piano. Alex é incapaz de acessar o cotidiano melancólico como seus colegas, pois aquele mundo não lhe pertence. Se Sonata Luz da Lua não é possível, ele iniciará sua própria composição. Apesar da ajuda do amigo é Alex que pensa em tudo, que rege o plano, compõe as coordenadas, dá as ordens. O massacre é uma sinfonia, seua sinfonia. Tem expectativa, (a entrada dos dois atiradores vestidoscom roupas militares no colégio), momentos mais agitados, (na primeira parte Alex e Eric saem atirando por todos os lados) calmaria (quando ambos param no refeitório para apreciar o que fizeram), e até mesmo de surpresa, já que Alex mata o amigo que o ajudou com o ataque. Matar Eric e concluir o massacre sozinho é consolidar-se como alguém dentro daquele colégio. Alex deixa de ser apenas parte do cotidiano para se tornar o acontecimento. Grava seu nome no espaço e pode assinar sozinho a autoria de sua obra prima. 




Uma crítica escrita há muito tempo...