Ilustração de Mariana Fakih |
Deixa eu te explicar uma coisa, meu amor. Não é porque sou bonita que sou burra. Porque sou gorda que não transo, porque sou gostosa que sou fútil.
A minha TPM não me torna mais louca que você, e se eu choro mais é porque a sociedade me permite, porque alivia e acalma; talvez você devesse tentar, sem culpa, sem medo ou vergonha.
Sinto muito se aprendi a dirigir, se trabalho numa multinacional, se gosto de usar decote e saia curta. Mas não é por isso que minhas pernas de fora te dão o direito de me chamar de tesão, de gostosa, de gatinha, isso não é legal, não te torna mais homem, entenda de uma vez.
Eu falo palavrões quando desejo, chego em casa a hora que quero e escolhi fazer engenharia, medicina, direito, teatro, moda e nada disso é da sua conta. Eu não sou sua, não lhe pertenço, nem a você nem a ninguém.
De repente, se ganho equivalente ou até mais do que você - e se você se sente envergonhado ou intimidado - devo dizer que deveria sentir que isso é normal. Até mesmo porque é preciso ser muito macho pra aceitar que você e eu devemos ter os mesmos direitos, as mesmas oportunidades, simples assim.
E se hoje posso te escrever abertamente é porque me foi permitido o estudo, o voto, a liberdade, a palavra, a independência. Hoje posso escolher ser o que desejo, partir pra onde quero, escolher por mim mesma. E apesar do tom pesado, quero que seja leve, que nos demos as mãos e que você me (nos) acompanhe.
Liberte-se também e chore e fragilize-se e permita-se. Siga melhor e quebre as supostas regras daquilo que é ser um homem à moda antiga.
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