- Pai, paiê, vem aqui. - o menino gritava fazendo-se ecoar pela casa toda.
- Já vai, já vai... - Andava calmamente.
- Vem logo pai..
- Que foi? Para que tanto desespero?
- Quem são esses daqui da foto? - O menino tinha um álbum enorme nas mãos, cheio de antigas fotografias.
- Esses.. ah, são... eram os amigos do papai quando ele era mais novo. - Disse num tom melancólico e saudosista.
- Nossa! - espantou-se o menino - E você conhecia tudo isso de gente?
- Sempre têm alguns que a gente conhece melhor que outros. - Respondeu com um sorriso amarelo, malicioso e um pouco apático.
- E essa daqui? - Perguntou muito curioso.
- Ah, você não ta reconhecendo não? Olha bem...
- A mamãe? - Chutou.
- Ela mesma.
- Que roupa esquisita. - Torceu o nariz.
Os dois ficaram ainda algum tempo revendo as fotos antigas, até que o menino se cansou de tantas pessoas que ele não conhecia e saiu, deixando tudo largado.
- Ual... isso faz muitos anos - murmurou para si o pai. - Tantos anos. - Recolheu devagar as fotos, reorganizou-ascalmamente enquanto desenterrava todas aquelas lembranças.
- Eram meus amigos... - Murmurou de repente. Eram, dissera sem perceber e aquela frase dita a toda lhe incomodou. Pensou em que rumo os outros poderiam ter tomado, se ainda gostavam das mesmas coisas ou se lembravam dos velhos tempos.
Procurou rever com mais calma as fotos, ficou algum tempo parado, pensando se deveria ou não tentar falar outra vez com aquelas pessoas.
Nas semanas seguintes tentou alguns contatos. Muitos tinham mudado de casa, ou mudado de vida. A gente precisa se ver... diziam, mas a gente nunca vai se ver, pensavam.
Não havia mais lugar naquelas vidas para as antigas amizades, talvez porque não eram mais amigos, não eram mais um grupo e todo o resto ficara apenas congelado nas imagens fotográficas.
Passou dias pensando nesse distanciamento, e quando revia as fotos e reencontrava seu passado detinha ainda certa esperança.
Tentou por mais algumas últimas vezes retomar os contatos. Não fora inútil, pois os poucos com quem consegiui falar lhe proporcinaram uma conversa gostosa e saudosista.
Mas com o passar das semanas acabou também desistindo daquelas fotografias e guardou-as de vez Quem sabe mais para frente se aventurasse a vê-las novamente. Naquele momento decidiu simplesmente pôr fim àquela melancolia.
Certamente assim deveriam ter feito seus amigos. Esqueceram-se das fotos, das lembranças e também da promessa de nunca se separarem.