26 junho 2012

Aceito Passe


A velha calça preta jeans desbotada, os olhos semi fechados desprotegidos e
com medo do sol, a camisa verde listrada, manchada e amarelada.
Vendia balas de goma, que passavam rapidamente pelos olhares apressados. Faziam sinal negativo com a cabeça, mediam-no de cima a baixo. As pessoas passavam sem o ver, desconexas com aquele mundo tão distante de si mesmas. Ele era invisível, sequer olhavam para o lado.
O sorriso vazio manchado de amarelo. Aceito passe, pedia, retrucava, mas padeciam educados e negativos os rostos comuns. Aceito passe, repetia triste enquanto ia aos poucos perdendo dentro de si o resto de sua vida. A barba já escondia-lhe o rosto enquanto sua imagem tornava-se apenas reflexo.
Não era malandragem, era súplica. Nem por isso mudavam as reações; as cabeças continuavam a balançar, as vozes continuavam a deixá-lo mais impotente.
Aquilo homem não era digno para aquelas pessoas, nem para o mundo delas. E quando me lembro disso tudo, lembro-me como um borrão em minha memória. Mas a figura caída e invisível daquele homem não passou despercebida por mim. Sua camisa era verde, cor tola da esperança. Cor do  contraste com a avareza branca, preta, oriental ou indígena que lhe sorria amarelo.
Era mais que uma venda, era um gemido angustiado, tão baixo, tão apático, morto, fétido em seu mal gosto. Por isso olhei-o ainda mais uma vez, numa fria análise sobre sua figura. Malditos
avarentos, por um instante pensei. Mas antes que aquele homem suplicasse a mim subi rapidamente no ônibus, sem comprar uma bala sequer.