06 julho 2016

Falar brasileiro

Gosto das palavras e dos sotaques, e costumo ouví-las de peito aberto, nessa língua que é tão minha. 
Mas não falo português não, que junta as consoantes que evolui pro lado de lá, em vogais que aos poucos de perdem e num sotaque me parece cômico por natureza.  
Falo mesmo é brasileiro:  língua de mãe latina, pai português, tio índio e avó africana. 
Porque falar brasileiro é entender a diferença entre cu e bunda, é fazer fofoca e não bisbilhotar; é entender que a saudade não é fado que se sofre ao eterno, mas pode ser mais sertaneja, curando-se no dia depois de amanhã. 

Falar brasileiro é conseguir pronunciar Itaquaquecetuba e Anhangabaú de primeira, é consternar-se e ficar de cara, é sentir a mistura sem se dar conta, é perceber que ser caboclo, caipira ou caiçara é ser parte do que somos. 

Porque falar brasileiro é estar no fuzuê linguístico, é ser a cultura que nasceu da mistura, é ser único, é estar mais que independente.