Pela noite brincavam...
- Você não balança direito! - Ele retrucou nervoso enquanto fugia.
- Eu não vou te machucar, é só você segurar forte. - Resmungava ela batendo o pé.
- Mas eu tenho medo de bater a cabeça... - A voz de Gustavo era chorosa e ele esfregava a cabeça.
- Vai nada... eu não vou deixar. - Silenciaram por alguns segundos.
- Vamos no outro? - Ele já preparava-se para correr
- Vamos nesse! - Ela chiou mandona, enquanto o menino já corria chutando as pedrinhas que voavam para todo o lado.
- Eu vou escorregar então. - Completou ele, correndo e escondendo atrás do brinquedo. Enquanto isso a meninas o perseguia. De repente Gustavo apareceu, jogando um monte de pedrinhas nela.
- Gustavo, não joga pedra! - Ela berrou.
- Jogo sim! - pegou mais um punhado e jogou de novo.
- Manhê!! O Gustavo tá jogando pedra ni mim! - E Gustavo correu malandro para a pequena ponte. A irmã perseguiu-o, o pai olhou feio mas não disse nada.
- Iá! - Gritou Gustavo ofegante enquanto pulava da ponte. Rapidamente já escorregava. Saiu do brinquedo num tropeço rápido, que sequer fez cambalear as pernas. Sua risada alta, simples e infantil, se espalhou pela brisa fria.
- Pára de tacar pedra, Gu, pedra não. - Falou num tom serio, porém calmo, o pai. Gustavo fingiu não dar atenção.
- Oh pai! Paiê! Vem aqui! Vem me subir! - Desconversou. - Paiê! Vem! - Por essas horas a menina já tinha desistido do irmão, tentado achar a mãe e voltava para brincar sozinha no balanço.
Gustavo subiu ágil pelas barras enquanto o pai, de baixo, acompanhava-o.
- Oooolha pai! Daqui dá pra ver tudo! - Apoiado no brinquedo, Gustavo ficou na ponta do pés para ver mais alto.
- Cuidado para não cair! - O pai pôs os pés nas primeiras barrinhas do brinquedo, próximo a seu filho, sempre com as mãos prontas para amparar uma possível queda.
- Olha pai, vem ver... - E Gustavo se esticava vendo lá longe... os olhos brilhantes.
O pai finalmente subiu e sentou-se junto do menino, compartilhando da mesma vista. Numa conversa fina a voz deles desapareceu devagar e serena pelo friozinho noturno.
XXX
- Ah mãe, tá cedo... - Resmungou Gustavo cruzando os braços e fechando a cara. - Só mais um pouco. - A mãe concordou, disse que daria mais uma volta no parque e logo depois iriam embora.
Do brinquedo ainda descia devagar e cuidadoso o pai. Nessa Gustavo já subia pela terceira vez no brinquedo. Agarrava as barras, virava de ponta cabeça, descia outra vez, corria.
- Pára de tacar pedra na sua irmã, oh... eu já falei! - O tom paterno era sempre calmo. - Brinca
de outra coisa.
- Tá, eu paro. - Respondeu baixo e resmungão, enquanto jogava escondido pelas costas outro punhado, com a outra mão.
Gustavo passou por baixo do brinquedo rolando nas pedras, escorregou e subiu mais uma vez...
- Gú - Falou devagar - Vamos achar a mamãe e a Camila? - Gustavo torceu a cara, sabia muito bem o que aquilo significava, a princípio fez corpo mole. Mesmo assim saltou do brinquedo com velocidade, e correu na frente equilibrando-se nas guias. Enquanto isso o pai sorria, e em sua juventude cansada, tentava acompanha-lo.