13 julho 2012

Babila


Babila e eu nos conhecemos meninas, de camiseta, shorts, uniforme e trancinhas. Ela loira, eu morena. 
Não, não éramos melhores amigas, nem amigas sequer. Também não éramos inimigas ou coisa parecida, apenas andávamos em grupos diferentes. Éramos assim, duas meninas que dividiam um espaço comum, se cruzavam e conversavam às vezes.
Um dia mudamos os caminhos, ela foi pra lá, eu pra cá e não nos vimos mais. Talvez por isso tenha sido tão curioso nosso reencontro, justamente no ginásio que treinávamos juntas. Sabe, foi aquele reencontro ao acaso, quando as pessoas se reconhecem sem se conhecerem. Conversamos pouco, sobre o passado, sobre as lembranças, sobre a vida. Desde então eu a vi poucas vezes, mas sempre encontrando-a por aí.
Essa semana soube que ela se foi e eu ainda não acredito que não vou mais revê-la. Talvez aconteça de novo, talvez daqui a dez anos eu entre num ginásio e ela esteja lá, Vou olhá-la, pensar que a conheço e dizer a aquela mulher madura: ei, você não é a Babila? Lembra, a gente treinava juntas, de trancinhas, e riremos disso por alguns minutos. Será um bom reencontro, tenho certeza. Talvez seja apenas mais ameno, como esses rápidos e esporádicos encontros que tivemos por esse ano.
E a certeza do re-encontra-la cresce a cada segundo, porque nada justifica o fato dela ter ido embora tão jovem. Nada justifica essa bobagem toda, dela ter ido tão de repende sem defesa e sem poder se despedir. Por isso apenas não acredito que ela se foi, e finjo que nãome diz respeito. Finjo porque sei que ela sempre estará por aí, de bobeira, pronta para reencontrar a todos nós, sorrir e dizer olá. 


Uma homenagem não tão bem escrita a alguém que se foi tão de repente.

09 julho 2012

O jardim das não verdades


Quando acordou, olhou as azaléias abertas. Algumas brancas, outras rosadas, uma azul. Era azul celeste, royal, marinho.
Mas se não existem azaleias azuis, talvez quase azuis, azuladas, azaleias, que bobagem! Quem pode gostar de uma flor que nasce em julho, em meio ao seco frio da chuva?

Quando acordou, viu seus chinelos sob a cama, seu edredon sobre a mesa, suas palavras sobre si. Acredite, é o mesmo sol que bate em seu rosto, esconde as marcas de batom que sugam o sangue e afloram as lembranças.

Não me pergunte, pois eu não acredito em mentiras, só em não verdades, Sou como ele, acredito em cada palavra que colho com aquelas azaleias azul-azuladas que florescem em todas as manhãs de chuva e sol. Acredite, pois acreditamos em cada não verdade que nos esbarra.

Ikebana, azaleias, orquídeas, vivas-mortas-retorcidas-multiladas. Quem mais precisa de cuidados? Eu, tu, ele, nós?  Mentira? Verdade? Não verdade? 

Que bobagem, dizemos. Apenas nos deixe em paz, nos deixe dormir, deixe. Quando acordarmos choverá, e sob o sol colheremos nossas azaleias azuis.