18 maio 2011

Crônicas do trem

Brás, 18h. O trem abre as portas. Em meio ao empurra empurra dois jovens correm e sentam-se, visilmente aliviados depois de um dia tenso, como qualquer outro.
- Sabe ali? Onde ele mora, no barraquinho? Ele quer uns doil mil. Dali dá ainda pra construir. Tô pensando na ideia.
- Se eu tivesse dinheiro, passaria a máquina na minha toda e contruiria ela de novo. Daí tirava logo aquele vão da cozinha.
- Passa não mano, aluga ali. Dá pra tirar uns 400 conto. Em cima ali da minha tem o segundo andar. a segunda laje ta alugada toda. A terceira ainda ta por fazê. Num aluguei ainda não, tá pra bater essa semana.
- Carai, ta patrão você!
- Eu até ia falar procê, mas tá alugado tudo já.
- Gente pobre, quando pega algum bagulho acha que tem o rei.
- Que nem o Rogério. Aí mano vai dá uma de orgulhoso, finge que não vê a gente.
- Eu que que sei. Se tiver isso aí a gente toma tiro na cara. Pode não.
- Relaxa cara, você vai ficar comigo só comandando.
- Aí sim!
- Foda, mas não pode ser que nem os cara. Chega na disumildade, só porque almoça lá cos cara. Mas quando tem pra resolver, cola na fevala pra nois dá um jeito.
- Depois se fode, a culpa é minha e sua que não ajudou.
Houve alguns segundos de silênciio.
- E as folhas?
- Era três de quatrocentos. Bastante, dava pra comprar um golzinho quadrado. 2.400, vou dar seis cheques na mão dele semana que vem.
- Pega co agiota qualquer coisa. As veiz é mais fácil.
- Só que pra pegar com ele tem que ser direito.  Os Paraíba é tudo rico, mas tem que abrir o olho.
- Cara lá bobeu, pau. Cara tem uma Aavazaqui aqui, outra ali...
- O Régis é assim cos polícia. Ele e o Nelson, que á a cabeça dos Paraíba.
- Ele fica ali, só filmando. Que ver se os cara anda direito.
- O Régis cuida lá do CDHU. Cara é rico. Os cara só não mata ele por medo da retaguarda.
- E o tanto de inocente que ele já matou?
- Eu não julgo ninguém.
Ficaram num silêncio mais longe, olhando para baixo e pensando em segundos por aquele assunto proíbido.
- E no sábado, se não vai mais?
- Não vou mais não, nem no feriado. 4h tou pegando, me trocando e saindo. Toda semana os cara querem hora e a mais. Tou fora.
- Carai mano, meu dinheiro só dá até amanhã!
- E essa carteira que tá pedindo otra hein? Deixa eu vê isso ae.
- Agora já era. Esse rapá aqui tinha até um baseado escondido, olha! Vixe velho, tinha 20 aqui de manhã gastei 12, sobro só as moeda.
- Daqui seu burro, vem cá, deixa eu contar.
- Oh ali mano - disse olhando pela janela do trem - É ali onde a gente leva as minas. Tem estacionamento, dá pra deixar os carros e as motos.
- Aí sim, é nóis!
As portas do trem se abriram e eles saíram, tão escondidos pela multidão quanto quando entraram.