Hoje fez sol, e enquanto eu caminhava pela rua arborizada encontrei um amigo. Abri um sorriso e lhe dei os parabéns pela filha, que chegara há uma semana.
Ele, bobo, prontamente me mostrou uma foto dela e disse com leveza.
- É a minha princesa.
Princesa, ah princesa, que era eu há duas semanas, quando te visitava e você me recebia de braços abertos e bengala na mão.
- Minha princesa!
Princesa, cujos mimos reais não me cabia escolher, mas estavam no doce embalado para eu levar pra casa, na bola mais leve que não machucava ao chutar, no chinelo separado para eu calsar após o banho, no abraço, no beijo na não bronca; até mesmo quando eram meus os pés sujos que manchavam a parede recém pintada.
Princesa, cujo rei se foi numa manhã de sol, tão agradável quanto aquela que ele mesmo olhou pela última vez o mar, na praia de Atalaia, e se despediu de sua terra.
Princesa, que nasceu e você cuidou como uma boneca, mesmo quando era teu corpo quem pedia cuidados.
Princesa...
Pena, penso. Pena reis assim não serem para sempre, pena que algumas manhãs ensolaradas às vezes amanheçam tristes.
Mas hoje, hoje fez sol, e vi meu amigo apressado para chegar em casa e brincar com sua boneca, pronto para exercer a realeza. E foi neste passo rápido que ele se despediu, sorridente. Eu sorri em resposta, sem pressa e
saudosa.
Afinal, sempre que nasce uma princesa, nasce um rei. Mas rei algum, mesmo quando se esvai, abandona sua princesa.
13/8/13
Finalmente a homenagem.