22 maio 2012

O vazio do fundos dos teus olhos


Vazio, foi assim que o enxerguei quando cheguei mais perto e não o toquei. Os olhos evasivos, a boca da qual não saiam sequer grunidos, o não prazer. 
Pensar que não te atinjo, nem sequer na superfície.
Por que esse vazio, esse nariz que não respira, este corpo que não sente? Por que esse buraco? Essa ausência?
Intocável, inatingível seja por ti mesmo ou por minha impotência, insanidade, incapacidade. 
O prazer de uma aventura mascarada num sorriso que se guarda e que se perde, num momento que se vive e que se esconde. 
Quanto mais perto, mais distante, quanto mais fundo, mais oco, mais enclausurado, mais silencioso. 
É um olhar que se cobre sobre o meu, que se perde na palavra que não diz, que não se dá a chance de sentir. Afinal, fomos apenas um par de olhos desviantes na penumbra, acuados em semblantes sem êxtase.
Quanto mais perto, mais longe, mais longe, mais longe. Um de frente para o outro, nos olhamos sem nos vermos. 
E pensar que engolimos um ao outro em desejos camuflados. Camuflados pelo vazio do fundo dos teus olhos que aparam, que sorriem, que evitam.
Fomos assim, livres por essa insanidade do fundo vazio dos nossos olhos, tão oca e plácida quanto nosso desejo, misturado e esparramado sobre sensações que não experimentamos e que não nos pertencem.