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05 dezembro 2016


"As pessoas que realmente importam são aquelas que se importam", estava escrito à caneta no banco de trás do ônibus em caligrafia escolar. E Andreia fotografou e postou no Instagram e a foto viralizou e foi comentada e foi reproduzida e foi vista e re-vista várias vezes. 

E Andreia olhou aquilo e se sentiu importante mas logo esqueceu. Porque a sua foto de um milhão de curtidas não refletia o que era seu apartamento vazio, sua horta e temperos murchos pela falta de tempo e cuidados, sua conta bancária quase vazia. 

E Andreia sentiu-se profundamente mal quando as pessoas desmarcaram o cinema que ela combinara e recusou-se a ir só. 

E Andreia entristeceu ao perceber que seu apartamento era pequena demais para acomodar os 100 amigos que confirmaram que viriam ao seu aniversário. E Andreia decidiu remarcar a comemoração em um bar enorme e só foram 5 dos 100. E Andreia ficou chateada pelos que não foram e esqueceu que as pessoas que realmente importam são aquelas que se importam.

Foto: http://frasespoesiaseafins.tumblr.com/post/145184847914

20 abril 2016

O trem e os amantes

Eram 23h30min e eu descia na estação Tamanduateí rumo às escadas rolantes. Bem na minha frente, seguindo pela plataforma um jovem casal se despedia. 
Deram-se um beijo carinhoso, daqueles apaixonados, cujas mãos delicadamente se soltam, percorrendo do braço à ponta dos dedos, até que ele restasse na plataforma enquanto ela pulava pra dentro do vagão. 
Já dentro do trem ela sentou-se junto à janela de vidro. Ele padeceu a observá-la com carinho e li em seus lábios "eu te amo", ditos quando o sinal tocou e as portas se fecharam. Vagarosamente o trem partiu acompanhando seus olhares saudosos, até que sumissem no horizonte.  

26 janeiro 2016

Crônica da Vida Urbana

  A Vida não é fácil, ninguém disse que seria. As palavras ainda lhe martelavam a mente desde que acordara. Era o sonho que revivia todas as manhãs, enquanto trocava as marchas e comia um pacote de biscoito água e sal.
  Aos poucos o trânsito caminhava, tão lentamente que dava até desgosto. “Isso porque nem voltaram as aulas”, pensou consigo enquanto mastigava mais um pedaço da bolacha. 
  Enquanto o sinal abria e fechava sem fazer com que os carros se movessem, Paulo pegou o celular. Com o dedo indicador deslizou pelas fotos dos amigos de férias, sorrindo, passeando nas praias e pela neve. Suspirou. Acabara de voltar de férias, e não sabia quando seriam as próximas, se teria dinheiro para pagar as prestações do último resort superfaturado, se poderia ser por 30 dias o cara livre que fingia ser na rede social. 
  “Essa vida me engole” - disse passando a mão sobre o abdome e tentando abrir os botões do colarinho da polo "me deixa gordo, infeliz, feio, patético,  BUM!” Bum?! Paulo olhou para trás assustado. Era um carro, modelo antigo, que colidira com seu modelo do ano, cuja primeira prestação tinha acertado há menos de duas semanas. 
  “Filho da puta! Viado do caralho da porra! - O Homem que batera saiu do carrro, dizendo que não teve culpa, que não tinha seguro, que estava desempregado, que não estava nem aí, que não podia pagar. Paulo saiu dizendo que estava menos aí ainda, que queria que se fudesse, que ele ia pagar. O Homem sacou uma arma e Paulo sacou os punhos. O Homem tentou atirar mas Paulo se atirou em cima dele, e socou-o até que o sangue jorrasse em seu rosto e lhe acalmasse a alma. O Homem chegou a acertar o tiro de desesperado, raspou no braço de Paulo que apenas teve vontade de socá-lo ainda mais. 

  Ao redor, as pessoas saíram de seus carros e se esconderam onde puderam, como ratos urbanos. Ao centro, Paulo levantou-se ofegante e limpou o suor do rosto, agora manchado de sangue. Paulo sorriu, o caminho estava livre. Ufa! Mas antes de partir, sacou o celular, fez pose e tirou uma selfie. Postou com a seguinte frase. "A Vida não é fácil, ninguém disse que seria”.