28 setembro 2016

Crônicas do Trem - Rose, Daniel e a cabine blindada

Foto por Bruno Bondarenv
   - Oi Rose, eu sou o Daniel, disse o homem sorridente que carregava no colo um menino cujos primeiros dentes ainda nasciam - Daniel, essa é a tia Rose. - Rose levantou os olhos e pelo vidro blindado da cabine sorriu de volta pra Daniel. 

  - Nossa que lindo, mais bonito do que você fala. Pena eu não poder sair pra pegar no colo.... - Daniel riu de volta, gostou de Rose. - E ai, conseguiu aquele emprego?

  O pai de Daniel sorriu largo em esposta. 

  - Acabei de fazer o exame lá, aquele que faz quando contratam. Levei o Daniel comigo, pro pessoal da firma já conhecer. Esse menino me dá sorte! Dai vim pra cá te apresentar ele, que você merecia conhecer.

 Rose sorriu em resposta, enquanto cobrava o bilhete do próximo passageiro. 
  - Obrigado, viu Rose - seguiu dizendo o homem - agora não vou mais precisar dos bilhetes, sou pai de família de verdade, sou trabalhador.
  O homem discursava, naquela alegria de quem nem percebe que discursa. Enquanto isso Rose fez uma brincadeira a mais com Daniel pelo vidro e despediram-se. 
  Eu, observadora, era a próxima da fila e aguardei o que foi preciso para que a despedida fosse calorosa, ainda que embarreirada pela cabine. Daniel foi embora olhando para Rose. Rose seguiu o olhar de Daniel até que fugisse da vista. Daí  chegou minha vez; comprei meu bilhete e entrei na plataforma pensando neste causo, escrito antes mesmo do trem partir.


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