19 agosto 2011

A cidade e a treva

Logo abaixo do céu e quase anexa ao mar reside Saulo, cidade onde as noites são claras como os dias. Ali as ruas transpassam umas às outras, e os viadutos enroscam-se e achatam-se por todo o lugar que se olha.
Em Saulo há sempre diversos caminhos para o mesmo ponto e circulam por eles uma imensidão avermelhada de faróis que se perde de vista.
Nas praças de Saulo os tabuleiros de damas e xadrez deram lugar ao cheiro de urina, odor esse que percorre toda a cidade pelos canais de água que a cortam por todos as direções. 
Dizem os mais velhos que o por do sol de Saulo é sempre o mais belo de todos, mesmo que escondido sob as torres e o ar turvo que cheira a fumaça.
Saulo é assim, Saulo não para, e quanto o dia amanhece já está toda acordada, circulando apertada sobre o rios enterrados e as galerias escondidas. Galerias sobre as quais aglomeram-se narizes das mais diversas cores e formas, morando uns sobre os outros e tornando Saulo sempre mais e mais aglomerada, fadando-a simplesmente a ruir.






Baseado em As cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino.

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